Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

  /  Artigos   /  Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero
Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Feminismo e família: O que eu gostaria que tivessem me contado ao nascer?

Adquirir conhecimento foi crucial para mudar minha visão intelectual com respeito ao movimento feminista. Você sabia que a época mais frutífera para o estabelecimento dos direitos das mulheres, a década de 1963 a 1973, foi também o período do início do enfraquecimento dos movimentos feministas?

Segundo análises realizadas pela Claudia Goldin, prêmio Nobel de economia em 2023, o sucesso das feministas deu espaço para que surgissem as organizações antifeministas. Nesta mesma década, surgiu, por exemplo, nos Estados Unidos da América do Norte (EUA) a STOP ERA, uma das organizações antifeministas mais radicais.

Uma pesquisa realizada pela Gallup nos EUA, por volta de 1990, identificou que 42% das mulheres consideravam que o movimento feminista tornava a vida das mulheres mais difícil. Inclusive, o termo feminista foi demonizado. Ao que isto se deve? Em parte, a polarização!

Os movimentos antifeministas difundiam a mensagem de que a busca das feministas, por oportunidades e direitos idênticos aos dos homens, era uma ameaça aos interesses das mulheres no que diz respeito ao casamento e à família.

Quando se colocou a família em oposição a liberdade de escolha, as batalhas passaram a se travar mais entre as próprias mulheres, colocando em segundo plano a luta contra o patriarcado. Por isto, ser capaz de elaborar o entendimento sobre esta polarização é fundamental para acabar com esta divisão entre as mulheres. O feminismo busca aumentar nossas possibilidades por meio da luta pela igualdade social e de direitos, combatendo, inclusive, os abusos e a violência contra nós mulheres.

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Os vieses de estereótipo são tão enraizados e repassados quotidianamente de forma subliminar por todos os meios – TV, rádio, cinema, livros escolares, novelas, séries, revistas, religiões, professoras e professores e família, entre outros – que a gente nem percebe o quanto isto aciona pensamentos e sentimentos binários na nossa mente e coração. Por exemplo, com filmes e livros escolares sempre colocando as mulheres em papéis nos quais elas geralmente cuidam das tarefas domésticas e das crianças, fica difícil imaginar que esta tarefa também cabe aos homens. Ao monopolizar os papéis sociais nos ambientes públicos com homens em cargos de sucesso, tanto na esfera política, como no mercado de trabalho, também fica comprometido o sonho das mulheres se tornarem grandes chefes de estado ou empresarias e executivas de sucesso.

Eu também, durante uma boa parte da minha vida, pensei que o movimento feminista era algo de mulheres que queriam destruir a nossa possibilidade de exercer plenamente a maternidade. E, de desenvolver uma relação amorosa saudável, com uma pessoa capaz de viver uma dinâmica na qual as responsabilidades das tarefas domésticas e da educação das crianças são totalmente compartilhadas.

O fenômeno identificado nos EUA, se espalhou pelo mundo. Eu mesma, vivi minha infância e adolescência nesta dinâmica de oposição entre mulheres, ouvindo muitas críticas ao movimento feminista. Assim, na vida adulta, quando eu poderia ter me tornado uma força para o movimento feminista, eu passei longe.

Com certeza, o casamento romântico não fazia parte dos meus projetos. Em compensação, a maternidade e a construção de uma relação amorosa harmoniosa, sim. Então, esta imagem colando feministas ao modelo de mulheres que eram contra relações amorosas e a maternidade plena, me deixaram confusa de forma inconsciente. Eram os vieses agindo na minha mente. Fiquei longe do movimento feminista por muito tempo.

A quem serviu esta luta entre as mulheres feministas, antifeministas e apáticas?

Com certeza as mulheres, não serviu.

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Felizmente, os exemplos da minha ancestralidade tiveram uma ação mais importante na construção da minha subjetividade do que as fofocas contra o feminismo. Por um lado, eu vivi a triste experiência da minha avó materna. Ouvir as histórias, e estórias, que contavam sobre como ela foi considerada doente mental e isolada do convívio social antes dos 30 anos, foi um gancho importante para construir uma subjetividade feminista que orientou minhas decisões de vida. Vale lembrar que, até a promulgação da Lei 4.121 em 1962, a mulher casada era considerada incapaz do ponto de vista civil. Por outro lado, também tive o exemplo da minha avó paterna, uma história de luta para sair da Alemanha no pós guerra, e fugir do patriarcado burguês de Wiesbaden para garantir sua liberdade.

Por meio do que eu chamo de “montagem do quebra cabeça inconsciente” eu tive uma intuição feminista que orientou minhas escolhas. Eram alertas que me convidaram para escolhas que asseguraram minha liberdade de ser e desenvolver a minha melhor versão, aquela que me faz feliz.

Sem arrogância, nem modéstia, eu me considero uma pessoa inteligente e com uma visão sistêmica bem apurada. Desde pequena tenho este saber intuitivo e inconsciente que me faz juntar uma série de informações. Vou acumulando um monte de pecinhas, tipo um quebra cabeças Wonders From Around The World com 51.300 peças no total, e quando necessário a foto se constrói e ilumina minhas reflexões.  Este mecanismo, até uma certa idade, se passava de forma inconsciente e, mesmo assim, contribuiu favoravelmente com as minhas decisões, e me permitiu conquistar uma trajetória de vida na qual o meu bem-estar é presente. Esta intuição, racional e emocional, também evitou que eu caísse totalmente nas armadilhas do machismo.

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Apesar disto, mesmo sem cair de cabeça nas pegadinhas do machismo, eu não sabia o suficiente para construir estratégias e contornar todos os Desafios Sistêmicos com os quais nós mulheres nos confrontamos quotidianamente na vida pessoal e profissional.

Por exemplo, com certeza eu fiz muito mais do que meus colegas homens para desenvolver  a carreira que sonhei e alcançar a minha independência financeira.

Por isto, eu gostaria de ter sabido, bem antes, que o movimento feminista é bom para as mulheres. Que este movimento nunca se opôs ao meu desejo de exercer plenamente a maternidade. Muito menos a minha busca de uma relação amorosa que correspondesse aos meus anseios de uma mulher livre.

Este movimento trabalha para equiparar os direitos, de nós mulheres, aos dos nossos parceiros, amigos e colegas. Isto é tão básico, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos prega estes preceitos desde 1948, e nossa constituição também. Infelizmente, ainda estamos longe de alcançar este objetivo. Segundo a 17ª edição do Global Gender Gap Report, pesquisa do Fórum Econômico mundial, publicada em 2023, precisamos de 131 anos para atingir a igualdade de gênero.

Como o feminismo nos serve? Que tal alguns exemplos?

Felizmente, os movimentos feministas se politizaram e tiveram êxito, por exemplo, criando apelações para trazer para o seio da sociedade temas sobre a dominação dos homens que precisavam ser modificados para responderem às necessidades da igualdade de gênero. A título de exemplo, Nancy Fraser cita o sexismo, o assédio sexual, o estupro conjugal, o  estupro por um conhecido, o estupro em relação amorosa, a segregação sexuada do mercado de trabalho, a jornada dupla e a violência conjugal.

Quando os fenômenos são nomeados, mudamos o lugar de debate. Criamos espaço para que, por exemplo, as discussões saiam da esfera familiar, trazendo-as para a esfera pública. Podemos citar a questão da violência conjugal, hoje temos lei, não podemos mais nos ausentar e dizer “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”.

Este ditado popular que reforça preconceitos e tabus extremamente ultrapassados, infelizmente, ainda é atual no inconsciente de parte da população. Sem gestão de cultura, fica difícil construir uma evolução de contexto social e conquistar uma nova mentalidade que mude os resultados identificados pelo PNUD e publicados no dia 12 de junho de 2023: 90% das pessoas no mundo afirmam ter pelo menos um preconceito com respeito aos vieses de gênero. Dentre estes, 25% das pessoas ainda acreditam que é justificável um homem bater em sua mulher.

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Outro exemplo, ao nomearmos os fenômenos que ocorrem no mercado de trabalho, como o “Feedback enviesado”, criamos a possibilidade de trazer para as mulheres informações importantes para seu desenvolvimento. Elas entendem que isto é opinião baseada no estereótipo de comportamentos esperados de uma mulher, não um feedback baseado nas expectativas de comportamentos com respeito ao cargo. Assim, muitas mulheres que ouviram “você é muito agressiva, você é muito mandona”, hoje sabem que isto significa dificuldade de alguns homens em lidar com mulheres assertivas, firmes, posicionadas e que sabem direcionar as situações. Assim, elas não perdem mais tempo em tentar corrigir algo que não é necessário. E, aprendem a direcionar os “feedbacks enviesados” de forma a promover compreensão no seu interlocutor sobre a dificuldade que ele precisa ultrapassar.

A igualdade plena entre homens e mulheres é uma luta que busca, entre outros, combater a pobreza, impedir a exploração das mulheres em trabalhos não remunerados e injustamente remunerados, equiparar as possibilidades de tempo livre e melhorar a saúde mental e física das mulheres, romper os vieses de desempenho e ônus da maternidade para trazer igualdade de remuneração, conquistar igualdade de respeito mudando esta cultura pós-industrial que coloca quotidianamente as mulheres como objetos sexuais destinados ao prazer dos homens, e assim, punir os abusos sexuais.

Para entender melhor as questões com respeito a violência sexual contra as mulheres eu preciso sair da minha bolha e ler muito sobre o que se passa neste mundo. Por isto, convido vocês para lerem este artigo “Que Eu Seja a Última: resenha sobre o livro de Nadia Murad” escrito pela Marcela Bittencourt Brey, minha colega no conselho consultivo do IBESG.

Uma vivência que me fez sair da minha bolha e explorar outros aspectos do machismo, foi o câncer de mama. Descobri que, além das questões da doença, as mulheres sofrem por deixarem de corresponder aos vieses de estereótipo sobre comportamentos e aparência física. Escrevi sobre esta experiência e convido vocês para conhecerem meu relato ouvindo ou lendo o episódio 4: Câncer, machismo e bem-estar das mulheres.

Câncer, Machismo e bem-estar das mulheres (Episódio 4)

Equilíbrio nas Relações entre os gêneros

O resgate do poder das mulheres NÃO envolve eliminação da família, ele está vinculado a conquista de uma parceria equilibrada. Precisamos construir relacionamentos onde ambas as partes se sintam respeitadas e apoiadas em suas decisões.

Para conquistarmos tudo isto, precisamos mudar nosso modelo educacional. É necessário preparar todas as pessoas para se tornarem indivíduos adultos capazes de cuidar de si mesmos nos aspectos da vida doméstica, equilibrando suas vidas para cuidarem, além da independência financeira, da família que decidem construir.

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

É preciso deixar de veicular um estereótipo que coloca a mulher como a mãe de todas as pessoas, a cuidadora oficial de todos os membros de uma família, inclusive do pai e da mãe do marido nos casais heterossexuais. Por sinal, este é um tema que precisamos explorar mais, pois, quando a mulher ocupa o papel de mãe do marido, ela perde o papel de amante. E, isto tem impacto enorme na relação amorosa do casal. Afinal dormir com a mãe, seria incesto. Cuidar de um parceiro ou parceira como pessoa adulta que amamos é uma coisa.  É, uma coisa bem diferente da responsabilidade de cuidado que temos, como mães e pais, pela vida de uma criança que se torna uma pessoa adolescente, e mais tarde adulta.

Sonho, como Nancy Fraser, que o ponto chave para se alcançar a igualdade de gênero é uma educação capaz de formar pessoas tendo como ideal a ser atingido o “modelo da mulher atual”. Este modelo combina a vida profissional no mercado de trabalho e o trabalho doméstico, dando espaço para a realização pessoal e bem-estar de ambos os sexos.

Isto permitiria que os homens assumissem sua parte nas tarefas domésticas, incluindo o cuidado com a educação das crianças quando decidem ser pais, ou são pais por acidente. Só assim, construiremos um sistema social e de mercado de trabalho capaz de reduzir as tensões e dificuldades desta combinação entre vida pessoal e profissional. É preciso encontrar soluções para acabar com a divisão sexual do trabalho que hoje beneficia os homens.

É fundamental acolhermos os trabalhos que convidam à desconstrução do gênero social para construir sistemas que combinem esfera pública e doméstica e acolher os seres humanos que decidem contribuir com a reprodução da humanidade. A mulher já carregou o ônus deste custo por muito tempo.

Lembro que meu lugar de fala é heterossexual, por isto estou abordando a questão deste lugar.

Atitude Protagonista

Para finalizar, deixo aqui este convite para todas as mulheres: busque conhecimento sobre o tema e desenvolva seu autoconhecimento para se conectar com a sua essência, sair do automático e cuidar de si mesma. A minha jornada no autoconhecimento me trouxe capacidade para desenvolver minha atitude protagonista e assumir a responsabilidade pela minha vida, me tornando capaz de lutar pelos meus sonhos mesmo sendo vítima de um sistema organizacional que queria me retirar o tempo todo do jogo do poder.

Quanto mais conhecemos sobre o machismo, maior nossa capacidade de perceber que existe um fenômeno que nos aprisiona na crença de que estamos a lidar com uma questão individual. Quando realizo a facilitação dos workshops no meu programa “Viva sua Voz”, no segundo ou terceiro encontro, sinto aquela felicidade ao ver a sororidade que se cria entre as mulheres ao descobrirem que elas estão todas passando pela mesma coisa. É uma energia libertadora, nos workshops on-line, o sentimento de peso saindo dos ombros delas, transpassa a tela. O autoconhecimento é essencial para lidar com este conhecimento e renegociar consigo mesma, para adquirir novos comportamentos e cuidar de si mesma.

Outro ponto essencial que trabalho nos programas de mentoria e coaching individual ou coletivo como o “Viva sua Voz”, é a atitude protagonista. Saber gerenciar frustações é essencial para construir novas estratégias diante da aquisição de conhecimento sobre os mecanismos da opressão da construção social do machismo. Entender as razões de nossas escolhas é imprescindível para nos reconhecermos responsáveis pelas consequências destas decisões, o que nos leva a sentir nosso poder para em qualquer sinal de descontentamento poder redefinir os caminhos.

Por exemplo, se decido deixar minha carreira para assumir totalmente os cuidados da família, é fundamental analisar os riscos de me tornar dependente financeiramente. Assim, me torno capaz de assumir a situação que viverei, por exemplo, diante de um eventual divórcio que se passe mal. Ou, escolher me preparar para evitar esta situação. Posso, por exemplo, valorizar financeiramente o trabalho doméstico negociando metade da renda do meu parceiro. E, isto significa que a soma deve ser creditada mensalmente na minha conta bancária.

Atitude protagonista significa ser capaz de tomar decisões de forma consciente, fazendo análise crítica das situações, olhando para os riscos e gerenciando o medo para colocar o foco nas soluções.

 

Feminismo: desconstruindo Estereótipos, uma jornada pessoal rumo à Igualdade de Gênero

Para recuperar meu atraso na conexão com o movimento feminista, capitalizo minhas experiências e estudos construindo programas, como por exemplo, facilitação de workshops, mentoria individual e coletiva, palestras, treinamentos e coaching para desenvolver o máximo de pessoas neste conhecimento essencial para compreender os mecanismos do machismo, e como eles são perpetuados. Assim como trazer o autoconhecimento que pode conectar as pessoas e motivá-las a trabalhar em prol  da igualdade de gênero.

👉 Escrevi em 2023 meu primeiro livro “Vamos voar Juntas?” com foco nestas duas dimensões para reforçar a importância do conhecimento e autoconhecimento no engajamento com o feminismo. Meu livro se encontra disponível para venda diretamente no site em PDF e na Amazon em Kindle e capa. Também é encontrado na livraria da travessa. Convido vocês para lerem. Quem tiver dificuldades para pagar o preço de R$ 23,93 do livro eletrônico, por favor, entra em contato comigo para eu disponibilizar um cupom de desconto ️.

Espero que este texto, apesar de longo, seja motivador e inspire você a buscar mais conhecimento sobre os vieses de gênero e mais autoconhecimento para desenvolver estratégias e fazer parte deste movimento lindo que busca uma vida mais justa e plena para todas as mulheres.

Até semana que vem!

VAMOS VOAR JUNTAS?

Sobre Vera Regina Meinhard

Sou Vera Regina Meinhard, amo conectar pessoas para promover a consciência sobre a importância da inclusão da diversidade no alcance do sucesso sustentável, em especial a igualdade de gênero. Mestra em Sustentabilidade & Governança, sou criativa, inovadora, realizadora de sonhos e mãe da Saskia.

Meu propósito é contribuir com o desenvolvimento das pessoas. Após 25 anos como executiva do Groupe Renault France, desde 2013, por meio de diferentes abordagens, coloco-me integralmente à disposição deste propósito atuando na sociedade como escritora e empreendedora para trazer soluções em desenvolvimento humano: Consultoria em Gestão de Cultura Organizacional voltada para ESG e Inclusão da Diversidade, Facilitação de workshops, Mentoria Individual e Coletiva, Palestras, Treinamentos e Coaching.

1
0
Comments
  • Saskia Meric Meinhard
    reply
    8 de março de 2024

    Muita admiração pelo seu trabalho e muito orgulho de ser sua filha 💜

Post a Comment