Escuta Ativa e relações de qualidade

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Escuta Ativa e relações de qualidade

Escuta Ativa e relações de qualidade

Tecendo Conexões

Muitas pessoas falam de escuta ativa. Muitas que trabalham para desenvolvê-la sabem quão necessário é calar nossa ansiedade, nossa vontade de direcionar a conversa para controlar o resultado. Nossa sociedade carece desta habilidade de comunicação em que prestamos total atenção ao que uma outra pessoa está nos dizendo. Escutar significa se abrir para entender as palavras desta pessoa fazendo o caminho dela, utilizando o modelo mental dela. Isto significa colocar total atenção nos sentimentos e intenções desta pessoa.

A escuta ativa tem como objetivo nos conectar com o significado das palavras da pessoa que é nossa interlocutora com base na visão de mundo dela. Isto requer a capacidade de se desprender, durante a escuta, do nosso modo de ver o mundo. Algumas pessoas dizem que escuta ativa demanda empatia, eu diria que empatia demanda escuta ativa. No fundo as duas andam juntas e se alimentam uma da outra. Quanto mais entendo as motivações de uma pessoa mais posso ter empatia por ela, e quanto mais tenho empatia mais abertura encontro em mim para ativar minha escuta e compreender sinceramente suas intenções.

Quando temos uma comunicação clara sobre intenções, fica mais fácil caminhar juntas, mesmo se isto significa se separar no final da conversa. A escuta ativa permite dar clareza às situações e nos encoraja na resolução de conflitos. Mesmo se no final isto requer o fim de uma parceria profissional, de uma amizade, por exemplo. Ninguém é obrigada a seguir com uma outra pessoa, e isto em qualquer tipo de relação. Principalmente, nas relações abusivas, quando nos deixamos crer que a outra pessoa tem real poder sobre nossa vida. Ter escuta ativa é essencial nestes casos, para sair da atitude de vitimização, aquela que pode nos fazer acreditar que não há escolha. Pode até não ter a escolha que você quer, mas com certeza tem outras possibilidades que serão melhores do que uma relação abusiva.

Escuta Ativa e relações de qualidade

Algumas pessoas desenvolvem esta qualidade quando crianças e transformam em talento. Outras, precisam trabalhar constantemente para desenvolvê-la. Principalmente quando acreditamos na vida como um eterno espaço de desenvolvimento. Há mais de 10 anos, abraço cada encontro, de toda e qualquer natureza, como uma oportunidade de desenvolvimento da minha escuta ativa.

Quanto mais temos esta competência, mais simples será desenvolver relações com conexões verdadeiras e que criam vínculos E, também fica mais fácil se desapegar. Ter escuta ativa é bem diferente de aceitar e escutar tudo sem se relacionar. Relação de qualidade significa troca. A escuta ativa é uma habilidade essencial para relacionamentos pessoais, trabalhos em equipe e em parcerias, negociações e resolução de problemas, por exemplo. Ao praticar a escuta ativa, podemos melhorar de forma considerável nossa capacidade de comunicação, sermos mais assertivas e construir relacionamentos de muita qualidade.

Lições da Improvisação e Estratégias Práticas

Vou contar uma historinha para ilustrar dois pontos que acredito serem essenciais para darmos uma oportunidade para que nossa escuta ativa possa ser acionada. Digamos, quando não temos naturalmente este talento, acredito que estas são as chaves para se aplicar imediatamente, e permitir um primeiro passo para ativar a nossa escuta.

Essa história acontece em um workshop para motivar e engajar as pessoas do Board de uma empresa em um trabalho que eu chamo de  jornada cultural para o desenvolvimento da igualdade de gênero. Em uma das etapas fizemos uma atividade de improvisação. Logo após, o CEO veio comentar comigo sobre a capacidade criativa de uma das VPs que estava presente.

Este comentário foi a brecha que nos levou para uma bela conversa sobre escuta ativa. Esta competência é essencial para trabalhar uma evolução cultural que nos conecta com paradigmas sociais seculares, vieses implícitos e muita polarização. É preciso sair da vontade de convencer que sua visão é a única verdade. Por sinal, recomendo o TED da Julia Galef “Por que você acha que está certo, mesmo quando está errado?”.

Assim como em outros casos, este exercício de improvisação eu trago da minha vivência teatral. Neste jogo, solicito para as pessoas participantes do workshop de se reunirem em grupos de 5 a 6 pessoas e cada grupo escolhe um dos Desafios Sistêmicos para contar de forma improvisada qual é o Desafio escolheu, qual a importância de se trabalhar este tema e como querem trabalhá-lo. O detalhe: cada pessoa pode dizer apenas uma palavra em cada rodada, a pontuação também é considerada como uma palavra. As rodadas acontecem na sequência em que as pessoas que participam se colocaram na arena da sala. E, elas têm 2’ para concluir. Não existe tempo de preparação. Parece pouco tempo, não é mesmo? No entanto, já vi muito grupo bloqueado achando os 2 minutos muito longos!

Escuta Ativa e relações de qualidade

Adivinha o que geralmente acontece? Poucos grupos conseguem concluir algo. Por sinal o objetivo é justamente trazer esta dificuldade. Na sequência conversamos para investigar o que cada pessoa estava sentindo e pensando. Na maioria dos casos, as pessoas têm tendência a ficar pensando na palavra que vão dizer antes mesmo de ouvir o que a pessoa anterior diz. Ou seja, quando ela ouve o que a pessoa diz realmente, fica presa na sua palavra e na gestão da sua frustação. Dificilmente a pessoa vai dizer a palavra na qual vc pensou.

O segredo da improvisação é atenção plena na pessoa com quem você está construindo a obra. Precisamos nos libertar dos nossos modelos mentais para acolher e criar em cima do que vem. Se ficamos presas a nossa lógica de pensamento, vamos trabalhar com a expectativa de que as pessoas digam o que eu espero. Isto é bem improvável. Precisamos focar na pessoa que é nossa interlocutora, na sua fala, e deixar de nos preocuparmos antecipadamente com nossa reposta. Quantas vezes, em uma conversa, em vez de ouvir ficamos pensando no que vamos dizer para convencer a outra pessoa da nossa verdade, ou ainda, para nos justificarmos por medo de sermos a pessoa culpada (atitude de vitimização).

O outro ponto é cessar julgamentos. Se eu fico julgando o que outra pessoa diz, em função de como interpreto aquela palavra naquele momento, eu perco a minha capacidade criativa. O julgamento é o primeiro matador da criatividade. Pois, se eu julgo a palavra da outra pessoa, imagine como fico julgando minha participação e deixando de ter escuta para o que está realmente acontecendo.

Claro que, além da atenção plena e do cessar julgamentos e fazer interpretações, outros fatores são preponderantes para desenvolvermos a escuta ativa. Traria mais quatro elementos.

  1. Dar retorno durante a conversa, a pessoa que está ouvindo pode fornecer sinais verbais e não verbais para mostrar que está acompanhando e compreendendo como, por exemplo, acenos de cabeça, expressões faciais receptivas e respostas verbais como “entendo”, “sim”, ou até mesmo repetindo parte do que foi dito, parafraseando e sumarizando. Isto significa repetir ou resumir o que foi dito pela outra pessoa, e esta é uma técnica útil para confirmar o entendimento e mostrar que você está acompanhando a conversa.
  2. Fazer perguntas abertas para encorajar a pessoa a trazer o caminho que ela fez, como ela está construindo sua fala, isto aumenta a quantidade de informações sobre o modelo mental da outra pessoa e ajuda a esclarecer pontos que podem não estar claros.
  3. Respeitar o ponto de vista da nossa pessoa interlocutora, mesmo que discordemos. Uma relação de qualidade é aquela que não obriga ao consenso.
  4. Desenvolver a paciência para evitar interrupções e permitir que a pessoa termine de falar antes de começarmos a responder.

Escuta Ativa e conversas consigo mesma

Eu acredito que para oferecer genuinamente alguma coisa para as outras pessoas, eu preciso ser capaz de realizar esta prática comigo mesma também. Quando prático comigo diariamente, entro em um caminho de pleno desenvolvimento e entendimento dos benefícios desta prática. Se quando coloco pausas nas conversas comigo mesma percebo que amplio o espaço para sentir, mais profundamente, minhas reais necessidades, posso imaginar que ao desacelerar meu coração e mente, trago um sinal que pode encorajar a outra pessoa a compartilhar mais profundamente seus pensamentos e sentimentos.

Fácil? Claro que não. E quanto mais importante a relação, mais complexo este exercício.  Quanto mais coisas em jogo, mais difícil ter paciência. O importante? Isto traz excelentes resultados e melhora nossas relações.

Num mundo global e conectado é fundamental desenvolver esta competência para navegar tranquilamente na escuta das profundezas das nossas necessidades e das outras pessoas!

Além do mais, a escuta ativa é essencial para o ESG (environmental, social, governance). Um dos pilares para a implementação do ESG é a Gestão de stakeholders. Assim, relacionamentos é uma palavra-chave na implementação e vivência  do ESG. É preciso escutar ativamente para entender as demandas e estabelecer conexão genuína com pessoas investidoras, clientes, pessoas colaboradoras, fornecedores, e toda a sociedade. Uma das premissas do ESG é a satisfação do conjunto destes stakeholders. Como é que poderei, sem escuta ativa, acolher e cuidar das necessidades de cada stakeholder e construir a matriz de materialidade? Ou seja, os pontos de maior preocupação da organização precisam ser definidos a partir dos interesses das partes interessadas. Para criar espaço para respeitar este pilar é preciso ter foco em soluções sistêmicas, para tanto é necessário escuta ativa para entender as intenções de cada parte e conseguir compor soluções que satisfaçam todas as pessoas implicadas na matriz de materialidade da empresa.

Escuta Ativa e relações de qualidade

Em processos de mentoria e coaching tenho percebido o quanto é preciso trabalhar a escuta ativa das pessoas clientes para que se escutem. Estamos precisando trabalhar o silêncio ativo para deixar o ritmo acelerado desta correria que busca resultados imediatos, muitas vezes sem a necessária reflexão sistêmica que o ESG exige.

Além disso, muitas vezes correm tanto que tem muitas idas e vindas, muito retrabalho. Com certeza investindo mais na escuta das necessidades de cada pessoa interlocutora faríamos nosso melhor sem tantos retrabalhos desnecessários. Retrabalho é diferente de erro que serve de aprendizado para não repetir o mesmo. Retrabalho é fruto de falta de reflexão sistêmica antes de iniciar uma ação. É preciso silenciar para nos escutarmos e evitar de deixar de considerar  as necessidades sistêmicas que justamente farão a grande diferença na performance pessoal e de uma organização.

O silêncio pode ser uma forma poderosa de comunicação durante a escuta ativa. Para silenciar é preciso aceitar que você não controla. Não é porque se tem a crença ilusória de que controlar o rumo de uma conversa permite levá-la para o resultado que queremos, que isto é uma realidade. Muito pelo contrário, é a escuta ativa que permite de influenciar o caminho e atingir um resultado que será bom para todas as pessoas stakeholders, para toda a família, para todas as pessoas em uma parceria.

Escuta Ativa e relações de qualidade

Acredito que as pessoas ocupando posições de liderança e de alta influência são significativamente responsáveis pela multiplicação de comportamentos que ampliam a capacidade de escuta nas relações. Por exemplo, o ESG demanda uma liderança sustentável  com um perfil emocional trabalhado, capaz de gerenciar as necessidades sistêmicas.

Escutar a outra pessoa é uma das melhores maneiras de evoluir pessoalmente, provocar desenvolvimento e inovar. Sem escuta ativa, dificultamos os caminhos da aprendizagem e da inovação.

Hoje sou muito vigilante, mantenho atenção constante para perceber meus sinais, por exemplo, corporalmente: se minha língua está afiada e colada aos dentes esperando a outra pessoa parar de falar para eu colocar minha visão das coisas! Sei que é hora de parar, respirar e me conectar com minhas necessidades essenciais. Coloco em ação os dois fatores chaves, para mim os mais importantes para ter um gatilho positivo, a atenção plena e o cessar julgamentos e interpretações. E, tranquilamente volto a ser uma pessoa com plena escuta, estimuladora da cocriarão.

E, você? Quais são os seus sinais da sua ausência de escuta? Quais os fatores chaves que te ajudam a fazer o caminho para despertar a escuta ativa? Como se conecta com suas necessidades essenciais e abre espaço para as necessidades das outras pessoas? 

👉 Ficarei bem feliz em contribuir com você nesse processo! Vamos conversar?

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Até semana que vem!

VAMOS VOAR JUNTAS?

Sobre Vera Regina Meinhard

Sou Vera Regina Meinhard, amo conectar pessoas para promover a consciência sobre a importância da inclusão da diversidade no alcance do sucesso sustentável, em especial a igualdade de gênero. Mestra em Sustentabilidade & Governança, sou criativa, inovadora, realizadora de sonhos e mãe da Saskia.

Meu propósito é contribuir com o desenvolvimento das pessoas. Após 25 anos como executiva do Groupe Renault France, desde 2013, por meio de diferentes abordagens, coloco-me integralmente à disposição deste propósito atuando na sociedade como escritora e empreendedora para trazer soluções em desenvolvimento humano: Consultoria em Gestão de Cultura Organizacional voltada para ESG e Inclusão da Diversidade, Facilitação de workshops, Mentoria Individual e Coletiva, Palestras, Treinamentos e Coaching.

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