Mulheres no mundo organizacional: vamos conhecer melhor os Desafios Sistêmicos?

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Mulheres no mundo organizacional: vamos conhecer melhor os Desafios Sistêmicos?

Mulheres no mundo organizacional: vamos conhecer melhor os Desafios Sistêmicos?

Na sede de se verem livres da problemática causada pela ausência de mulheres no quadro de colaboradoras(es), especialmente em cargos de liderança, muitas empresas acabam atacando somente as causas e esquecem de entender os sintomas.

Isto as leva a implementar políticas, práticas e sistemas de metas imaginando que, sem trabalhar a cultura, poderão resolver a questão da representatividade das mulheres no seio de suas organizações.

Sim, a representatividade das mulheres é uma questão cada vez mais presente. Sabemos que hoje elas são clientes importantes e querem comprar produtos que atendam suas necessidades e vontades. Também fica cada vez mais claro que contribuem de maneira significativa com os resultados das empresas. Por exemplo, a Mckinsey, em  seus estudos de 2014 e 2017, verificou uma correlação direta entre a representatividade das mulheres e a propensão das empresas a obterem lucros acima da média.

  • Para que a representatividade das mulheres entre na vida das organizações com relações de gênero verdadeiramente remodeladas, precisamos mudar atitudes e comportamentos.
  • Caso contrário, trataremos a inserção das mulheres como algo unicamente utilitário.

Mulheres também são stakeholders, tão importantes quanto os outros. Sabemos que as empresas que cuidam de todas as partes interessadas e envolvidas com seu negócio podem crescer quatro vezes mais rápido que as empresas que não o fazem, além dos preços das suas ações terem propensão a crescer doze vezes mais rápido.

Precisamos ir além de práticas, políticas e metas, precisamos de uma transformação cultural para mudar a maneira como olhamos para as mulheres no mundo organizacional e para os homens na esfera privada. Inclusive as próprias mulheres precisam revisitar seus paradigmas. Elas também são filhas de um sistema educacional baseado no sexismo.

Por esta razão é necessário olhar para os comportamentos cruciais que precisam ser transformados para se alcançar uma representatividade das mulheres em todos níveis e domínios de uma organização. Isso significa agir diretamente nos desafios sistêmicos que elas enfrentam quotidianamente. Segundo a edição 2019 da pesquisa Panorama Mulher do INSPER, no Brasil ainda temos somente 19% de mulheres em média em cargos de liderança e, elas representam mais de 50% da população.

Desafios Sistêmicos do sexismo no mundo organizacional

Para contribuir com o desenvolvimento da carreira das mulheres precisamos compreender e provocar estes Desafios Sistêmicos da cultura organizacional.

Nomeamos estes desafios como sistêmicos por serem interdependentes

e estimularem uns aos outros.

Por exemplo, pensar na ascensão das mulheres como uma possibilidade relacionada com um sistema no qual a meritocracia é suficiente é mergulhar no autoengano. O sistema organizacional é pleno de vieses que colocam as mulheres num caminho com muito mais obstáculos. Veja a questão da maternidade: ninguém se pergunta como um homem que acabou de ter filhos vai se organizar para continuar dando conta do seu trabalho. Nenhum pai ao retornar da licença paternidade é demitido.  Acreditar na meritocracia é abrir a porta para criarmos mais um grupo de privilegiados, neste caso, as mulheres que rompem as barreiras e acabam acreditando que são especiais e que merecem este lugar na liderança por serem assimiladas ao grupo dos homens. Afinal, foram capazes de suprimir a visibilidade dos atributos que priorizam os sentimentos e as relações.

Quando temos as mesmas capacidades e mais obstáculos são colocados no nosso caminho, precisamos de um sistema justo.

A meritocracia é insuficiente.

Mais um desafio: você já percebeu como a figura do líder é ultra masculinizada? Toda vez que pensamos na palavra líder muito frequentemente são figuras de homens que enxergamos em nossas mentes. Inclusive as mulheres. Na maior parte das empresas a definição de líder traz atributos considerados da energia masculina e associados ao sexo masculino. Assim, nosso inconsciente age com um viés sexista na hora de escolher seus líderes. A teoria do labirinto desenvolvida por EAGLY e CARLI nos mostra que uma grande parte das mulheres que alcançaram cargos de liderança o fizeram aprendendo e colocando em evidência os comportamentos que integram estes atributos.

A existência deste desafio sistêmico estimula as crenças sexistas e estereotipadas dos atributos femininos que definem as mulheres como desqualificadas para os papéis de liderança. Assim, privamos as organizações dos valores ditos femininos que priorizam os sentimentos e as relações e permitem, por exemplo, mais colaboração, receptividade e empatia.

Além disso, sistemicamente, temos o impacto desfavorável dos feedbacks generalizados e repletos de vieses. Como associamos os atributos da energia masculina aos homens e estes à função de líder, quando uma mulher assume esses atributos é altamente criticada. Afinal, esperamos delas um comportamento com atributos femininos, como por exemplo, cuidar dos outros. Esses feedbacks acontecem geralmente sem contextualização e sem base fatual e se tornam mais um entrave no desenvolvimento delas. Na realidade, eles estão repletos de vieses oriundos dos paradigmas educacionais que ainda colocam a mulher como princesa e responsável pela esfera doméstica. Esta discriminação também está relacionada com a baixa representatividade de mulheres que assumem as características de controle e afirmação com comportamento assertivo e capazes de confrontar ideias, com autoestima elevada e autopromoção. A mulher que ousa demonstrar seu poder como ser humano é criticada. 

Já percebeu que dizemos

“Empoderar as Mulheres”?

Esta frase é sexista em si mesma, ela diz que a decisão de dar poder para a mulher está fora dela.

Toda mulher nasce tão poderosa quanto qualquer homem, o que precisamos fazer é criar os meios que contribuam com

o resgate deste poder suprimido pela hierarquização das relações de gênero.

Síndromes, sintomas e comportamentos

E a mulher nisso tudo? Quando ela se mantém emocionalmente e racionalmente distante deste lugar de mulher especial, que é quase homem, ela se sente cada vez mais como o Patinho Feio. Quanto mais ela avança na hierarquia, mais ela se encontra solitária e atacada pela Síndrome da Impostora, com aquela sensação de não merecedora daquela posição e muito menos ainda de mais uma promoção.

Para romper com mais este desafio,

ser justo é proporcionar um desenvolvimento que traga

autoconhecimento e um crescente

senso de identidade como líder

para as mulheres

Outros desafios sistêmicos são enfrentados quotidianamente pelas mulheres. Eles podem se manifestar no comportamento dos homens como, por exemplo, nas relações do network informal, no tratamento das mulheres que retornam de licença maternidade (mommy track), na maneira de agir quando elas falam e colocam ideias (mansplaining, manterrupting, broproprianting). Ou ainda, virem da construção social sexista que afeta a subjetividade das mulheres como os modelos de:

  • Oprimida a Opressora, esquece de reconhecer os privilégios da sua trajetória e ao invés de se tornar uma alavanca vira mais um desafio sistêmico para outras mulheres. Comporta-se como se nada pudesse ser feito, tudo se resume à questão do seu mérito “as outras terão que fazer todos os esforços que eu fiz!”
  • Loba Solitária, ignora a importância das alianças e parcerias na liderança e o desenvolvimento da sororidade construtivatrazendo para o seio profissional sua capacidade de tomar conta de tudo e, querendo colaborar, acaba sendo vista como uma competidora que se mete na área dos colegas,
  • Poliana, joga a transparência cega que pode sabotá-la, acreditando na verdade única da sua vivência e educação baseada nos atributos femininos.

Temos ainda as crenças que limitam a ascensão das mulheres:

  • Líder Palatável, busca se adaptar e desenvolve um modelo de liderança que desce redondo aos homens infantilizando a mulher ao invés de assumir seu papel de líder essencial para o negócio.
  • Mulher Maravilha, acredita que precisa dar conta de tudo no trabalho, na casa, na vida amorosa, na família expandida tendo empenho excelente. Isso, além de causar burn-out, muitas vezes acaba sendo um péssimo exemplo que leva muitas mulheres a desistirem da carreira e outras a nem tentarem.
  • Cinderela, espera a chegada do grande líder que reconhecerá seu valor e a promoverá! “Dizer que quero uma promoção é desnecessário, serei reconhecida.” Assim como o príncipe que chega e percebe que ela é a melhor mulher do mundo e merece o lugar da princesa.

Para mudarmos tudo isso é preciso uma transformação cultural que possibilite aprendermos sobre a construção social sexista e nos motive novos comportamentos mais generosos e inclusivos.

Líderes são pessoas chaves nesta transformação. Aprender novas práticas e aplicar novas políticas é insuficiente para aprendermos novas maneiras de ser.

Para sairmos do simplismo do politicamente correto e chegarmos ao sentimento verdadeiro e profundo é preciso trabalhar nos aspectos motivacionais e na capacitação para envolver as pessoas no processo.

E ambos na dimensão individual, coletiva, e em sua materialização. Por esta razão é fundamental proporcionar meios que trabalhem a motivação pessoal da liderança para abraçar esta causa. As mulheres precisam, igualmente, trabalhar sua motivação para que entendam que também são hóspedes deste sistema e que é necessário reequacionar sua compreensão de mundo e viabilidade no universo do trabalho.

A transformação que pode nos levar para fora do sistema sexista necessita de um processo que nos permita uma mudança de atitude.

Esta possibilitará mudar o foco e integrar o melhor para o bem comum, incluindo verdadeiramente todos os stakeholders.

Mariana Mouret & Vera Regina Meinhard

Fonte:
https://www.linkedin.com/pulse/mulheres-mundo-organizacional-vamos-conhecer-melhor-os-meinhard/
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