Mulheres, Futebol e representatividade profissional

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Mulheres, Futebol e representatividade profissional

Mulheres, Futebol e representatividade profissional

Não imaginei que ficaria tão emocionada. Nem que lágrimas viriam aos meus olhos ao ver nossas jogadoras cantando o hino nacional.  Muito menos ao ver as jogadoras do Panamá chorando. Era o conjunto que abraçava de forma deliciosa minha alma, corpo e mente.

Isto me fez parar e refletir sobre a razão de tanta emoção. Desta sensação gostosa que senti. Destas lagrimas que subiam de um peito que de repente, percebi cheio, e se esvaziava!

Foi fácil identificar. Meu coração se sentiu muito conectado com estas jogadoras de futebol.

Ao mesmo tempo que cantava com elas o hino nacional, deixava meu coração vagar nesta afinidade que senti imaginando o caminho de superação que tiveram.

Nós que escolhemos revogar esta construção social binária, ainda persistente, devemos superar muitos preconceitos. É preciso muita resiliência para trilhar caminhos nos espaços ainda atribuídos, pelo modelo machista, só aos homens.

Quantos olhares de estranheza precisamos enfrentar?

Quantas falas desmotivadoras ouvimos sobre nossas escolhas?

“isto é coisa de homem, vai ser muito difícil para você”

“menina, você é muito bonita, você pode encontrar um bom marido, não precisa correr este risco”

“você não vai dar conta, matemática é coisa de menino”

“força física é coisa de menino”

etc.

Quantas falas nos retiram do pertencimento ao grupo das mulheres sem nos integrar em nenhum outro?

“você nem parece mulher, se posiciona como homem”

“você é uma mulher diferente, por isto virou executiva”

“você é muito inteligente, nem parece mulher”

“se comportando como homem, vai ficar sozinha”

etc.

Muitos colegas homens com certeza ficarão surpresos com esta emoção que tomou conta de mim. Mulheres que escolheram o caminho traçado para elas pela sociedade machista, também. Pessoas que acreditam que masculino é sinônimo de homem, também. Mulheres que se acreditam diferentonas, com mais direitos que as outras, também.

Em compensação, mulheres que navegam nas esferas atribuídas aos homens, sem negar seu pertencimento ao grupo das mulheres, poderão me entender. Muitas delas, acredito, passaram a vida ouvindo, como eu, que ocupavam lugar de homem, se comportavam como homem, e de alguma maneira, já não eram realmente mulheres, eram quase homens. Mas também não eram homens.

Então, realmente, fiquei muito feliz de ver esta mulherada no campo. E, ainda mais feliz em sentir o apoio mais forte da mídia. Também, ao ver algumas empresas se mobilizando para organizarem momentos com telão para as pessoas colaboradoras verem os jogos. Nada a mais do que fazem para os jogos da copa de futebol dos homens.

É verdade, ainda é muito pouco diante da festa que se faz com o futebol dos homens.

E, é um começo!

Sim, tudo isto me trouxe uma deliciosa emoção por ser mulher e me sentir pertencendo a este grupo. Pertencer sem exceções. Sem precisar corresponder ao modelo de mulher definido pelas relações de gênero hierarquizadas.

Continuo sendo mulher, mesmo se sou uma pessoa inteligente, que traz resultados de excelência, que exerce liderança, se posiciona, direciona soluções e tem ambições profissionais.

Agora posso responder com convicção: sou MULHER e sou quem sou.

Sou um ser humano que nega se associar e se subjugar a este modelo socialmente construído. Tenho todos os direitos e abraço todas as oportunidades.

Posso me sentir uma patinha linda e deixar a síndrome de impostora de lado. Afinal, outras como eu existem e são ovacionadas como mulheres! Em cada gol, uma força subia do meu âmago. Ao mesmo tempo que, sem pudor, a vulnerabilidade tomava conta de mim. Deixei meu coração explodir: representação.

Existimos no lugar mais reservado e afirmativo do homem no Brasil: o futebol!

Chega de ouvir: “você joga futebol como homem” para expressar que uma mulher joga bem. Precisamos aprender a sentir conforto para responder:

Eu jogo futebol muito bem, ponto!

Esta resposta precisa ser uma fala natural das mulheres em qualquer elogio que associe uma ação como sendo exclusivamente de homem.

Quanto mais a sociedade se movimentar para criar espaço de pertencimento e condições para fortalecer nossa autoestima, mais confortável nos sentiremos de ser mulher e assumir qualquer posição na vida. Nosso bem-estar passa por esta evolução.

Fica a dica do filme francês “Comme des garçon” que mostra a luta das mulheres para jogarem futebol em 1969.

Parabéns para todas a jogadoras pelo jogo com Panama!

Seguimos com vocês em cada jogo!

Próximo encontro dia 29 de julho às 7h.

Sobre Vera Regina Meinhard

Sou Vera Regina Meinhard, amo conectar pessoas para promover a consciência sobre a importância da inclusão da diversidade no alcance do sucesso sustentável, em especial a igualdade de gênero. Mestra em Sustentabilidade & Governança, sou criativa, inovadora, realizadora de sonhos e mãe da Saskia. Meu propósito é contribuir com o desenvolvimento das pessoas.

Por meio de diferentes abordagens, coloco-me integralmente à disposição deste propósito atuando na sociedade como escritora e empreendedora para trazer soluções em desenvolvimento humano: Consultoria em Gestão de Cultura Organizacional voltada para ESG e Inclusão da Diversidade, Facilitação de workshops, Mentoria Individual e Coletiva, Palestras, Treinamentos e Coaching.

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Comments
  • Francisco Schiocchet Junior
    reply
    3 de agosto de 2023

    Vibro com as conquistas das mulheres porque entendo que, de certa forma, ainda precisam vencer alguns desafios que as acompanham na história de humanidade, onde o papel da mulher era o equilíbrio doméstico e a sensibilidade no seio familiar.
    Entendo, até me provem o contrário, que o mundo tem aprendido a valorizar cada vez mais as mulheres a ponto de competirem em igualdade com os homens. Esse é o verdadeiro equilíbrio em uma sociedade equalitária, homens e mulheres, ou se preferirem, mulheres e homens valorizados pelo que realizam e constroem.
    Achei interessante a analogia entre o futebol feminino e o masculino e, enquanto lia, recordava de anos onde o vôlei feminino era festejado com muita vibração, quase da mesma forma que a paixão nacional. Recordo que o vôlei masculino também vivia seus tempos áureos, mas o feminino tinha mais destaque. Deste recordação, me surgiu a reflexão sobre porque deixamos de acompanhar o vôlei feminino, e o masculino também, com o mesmo entusiasmo que tínhamos no passado.
    Talvez encontremos nessa explicação uma luz que ajude a explicar o porque o futebol feminino desperta pouco interesse das pessoas.

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